Não é novidade existirem bactérias que resistem aos antibióticos criados para as matar. É uma inevitabilidade, conhecida de longa data dos cientistas, mas há certos detalhes que fazem soar o alarme, como aconteceu com a descoberta recente de um novo mecanismo de resistência em duas bactérias - escherichia coli e klebsiella pneumoniae - com origem na Índia.
"A grande novidade foi terem aparecido num grupo muito frequente de bactérias - as enterobacteriáceas, que vivem no nosso intestino - e terem conseguido resistir à última classe possível de antibióticos", reservados para infeções multirresistentes críticas, explica o presidente do Colégio da subespecialidade de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos, Rui Moreno. E agora? "Só restam os fármacos mais antigos e muito tóxicos e esperar que surjam novas classes de antibióticos", admite o também presidente da Sociedade Europeia de Cuidados Intensivos.
"É uma questão de tempo o novo mecanismo de resistência surgir noutras bactérias da mesma família. Tentar evitar a circulação de microrganismos é um investimento que existe desde o século XIX e não foi por acaso que esta situação surgiu na Índia", alerta o infecciologista do Hospital Egas Moniz, em Lisboa, Jaime Nina. A explicação é simples: "Estas bactérias saem do intestino, vão para os esgotos e sem saneamento e condições de higiene continuam a circular".
A boa notícia é que a maioria das 'superbactérias' ainda está confinada aos hospitais, sobretudo às Unidades de Cuidados Intensivos e blocos operatórios. A regra foi confirmada com o caso indiano - as infeções semelhantes já notificadas em vários países, Portugal excluído, atingiram 'turistas de saúde' (deslocam-se para receber cuidados médicos noutros países) tratados em unidades na Índia. "No mundo desenvolvido é muito raro que um doente entre no hospital com uma bactéria resistente vinda da comunidade", salienta o responsável pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, Vaz Carneiro.
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