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"milagre" A 250 graus

 Entrou num forno aquecido a 250 graus para recriar "milagre"
Um homem entrou hoje, domingo, dentro de um forno de lenha comunitário aquecido a mais de 250 graus durante a recriação do "milagre" da Urgueira, no concelho de Águeda, que atrai anualmente milhares de pessoas.

Na pequena aldeia da Urgueira, situada na Serra do Caramulo, a Associação Etnográfica Os Serranos promove desde 1996 a recriação de um milagre que remonta ao final do século XIX, mas que durante cerca de 100 anos esteve inactiva.
Num forno comunitário aquecido durante três dias, Manuel Farias, presidente da colectividade organizadora, entrou no seu interior para depositar uma broa com cerca de 80 quilogramas, que depois de cozida foi cortada em pedaços para distribuir pelos romeiros.
"Ao entrar no forno não há sensações nem emoções. Não há euforia nem inibição, não há tristeza nem alegria e não há frio nem calor. Temos de ir completamente bloqueados à emoção e à sensação", explicou à agência Lusa, momentos depois de ter entrado e saído do forno, cuja temperatura oscilava entre os 250 e os 300 graus.
Salientando que o segredo é o autodomínio, com a respiração suspensa durante cerca de 15 segundos, Manuel Farias conta que quando sai do forno é como se lhe tivessem "despejado um balde de água pelo corpo abaixo, porque a transpiração é tão intensa que a água escorre-nos pelo corpo".
A entrada no forno é feita com um fato típico de romaria, uma boina com protecção para as orelhas e um cravo na boca.
"O cravo é apenas para trincar e assim não abrir a boca, o que poderia causar lesões", explica Manuel Farias, acrescentando que, antigamente, o aventureiro que entrava no forno tinha por hábito tirar um cravo do andor da Senhor da Guia para levar na boca.
A recriação do milagre remonta ao final do século XIX, quando na pequena aldeia da Urgueira foi construída uma capela e um forno comunitário em louvor à Senhora da Guia, mandada construir por um casal que escapou a uma tempestade no Atlântico quando regressava de barco do Brasil.
Mas uma tragédia ocorrida em 1904, em que morreu um homem durante o ritual de entrada no forno, interrompeu a tradição até 1996, altura em que foi recuperada pela Associação Etnográfica Os Serranos que, simultaneamente, organiza um festival de folclore. [ IN J.N.]

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